Chamada

"Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és, no mínimo que fazes" - Fernando Pessoa

domingo, 12 de outubro de 2008

E quem vai decidir as coisas?

Definitivamente as grandes empresas não educam seus empregados para lidarem com pessoas. Não os ensina a tomarem para si as carências e os problemas dos clientes.
Ontem tive dificuldade para embarcar uma amiga na rodoviária! A passagem dela estava definida para o Destino X. No entanto, o ônibus que saia naquele dia e horário não ia passar pelo tal Destino X.
Então, lá fui eu pedir para um dos empregados da empresa um esclarecimento sobre o assunto. Acho que ele não estava muito feliz pelo plantão de sábado à noite e me disse, com cara feia, que o ônibus simplesmente não passaria pelo tal destino.
Eu, ainda calma, disse para ele que não estava entendendo. Aí, o grosso do empregado, sem olhar pra mim, respondeu que se eu estivesse duvidando da palavra dele, que conferisse na passagem dela que, naquele dia e horário, o ônibus não tinha desembarque no Destino X.
Como boa comunicadora que sou, bati o olho no crachá dele e o chamei pelo nome. Disse que eu não estava desconfiando dele, mas sim que eu não estava entendo a situação e que, portanto, merecia um esclarecimento.
A mãe de meu amigo tirou da bolsa a passagem que tinha no seu rodapé a frase “Desembargue no Destino X”. Enfa (como diria alguns colegas). O empregado leu aquilo e nem se quer olhou para nós duas, disse simplesmente que o problema não era dele.
Gente! Me subiu um calor, que eu quase voe no pescoço do homem. Mas ainda estava tranqüila o suficiente para novamente o chamar pelo nome e dizer o seguinte: “Fulano, quer dizer que a empresa me vende uma passagem com destino que não existe e não é problema seu? Então de quem é o problema?”. O cara teve a coragem de dizer em alto e bom som que o problema era do empregado que tinha vendido a passagem para minha amiga!
Aí eu olhei bem na cara dele e disse que se ele estava com o uniforme da empresa ele tinha que se responsabilizar pela situação ou então que chamasse alguém que o fizesse, porque assim como minha amiga, outros passageiros também estavam com passagens para o Destino X e não podiam embarcar!
O empregado ainda ficou alguns minutos enrolando, dizendo que não ia se responsabilizar e que tinha que cumprir o que estava previsto.
A mãe de meu amigo já ia embarcando para descer em outro destino, quando quatro passageiros decidiram que não ia embarcar. Estavam se sentindo ofendidos pela situação e que o ônibus não ia sair dali sem que todos estivessem satisfeitos!
Ai que eu vi a importância da união, pois o motorista, acuado por aqueles cinco passageiros não pode, se quer, ligar o ônibus.
No final da discussão, ficou definido que o ônibus ia passar pelo tal Destino X, deixar os cinco passageiros e depois seguir viagem.
Acho que o empregado, que disse que não tinha responsabilidade nenhuma com a situação, não ficou muito satisfeito. Afinal ele estava saindo do script.
Embarquei minha amiga e fiquei refletindo quantas vezes eu sou igual aquele empregado mal educado e falo, em alto e bom som, que não tenho responsabilidade com os problemas dos outros. Ele se quer pensou que aquela senhora poderia ficar perdida se não descesse no destino para o qual ela comprou passagem. E também não pensou no colega de trabalho que vendeu a passagem enganada e que não estava ciente da confusão que aquilo tinha causado.
Fiquei pensando também em como as empresas estão treinando seus empregados para atuarem com os clientes. Se ele tivesse o mínimo de consciência sobre administração saberia que são as passagens vendidas para pessoas como aquela senhora, minha amiga, que pagam o salário dele.
Apesar de minha amiga ter conseguido embarcar para o Destino X, acho que todos saíram triste do local. A frase “o problema não é meu” ainda ecoa nos meus ouvidos. Eu a ouço e reflito como ela está presente em todas as situações que vivemos. Eu não tenho responsabilidade com o lixo que suja minha cidade; eu não tenho responsabilidade sobre a violência que se alastra pela periferia; eu não tenho culpa pela fome de tantas pessoas!
Eu, mais eu, mais eu, que no final é igual a nós! Nós que não temos culpa por nada disso! Que não vamos nos responsabilizar por nenhumas das mazelas que se alastram pelo mundo.Mas se ninguém é realmente culpado, quem vai resolver os problemas? Quem vai ser responsabilizar por aqueles que não conseguem ter voz diante de tantos paradigmas anti-sociais? Quem vai subir no púlpito e dizer que está na hora de mudar, de agir de forma que todos sintam, no mínimo, satisfeitos com a situação? Afinal de contas, quem vai decidir se a vida vai desembarcar ou não em um destino bem melhor?